sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

" Devagar "

Apetecia-me organizar o mundo apartir daquilo que as pessoas transportam nos bolsos .É clarividente que poderia dar direito a uma época diferente . Uma epidemia de barbitúricos à mostra , corrupções apreendidas de buraquinhos com forro dulpo ,botões de alma retirados das rosas que todos recebemos ao longo de uma vida, notas de 5 euros molestadas pela larva da máquina de lavar ,sementes de asno a pernoitar ,rascunhos de cartas passadas a computador com a certificação de desamor porque o amor escreve-se à mão e com a letrinha que nos deu réguadas .
E eu pensei em organizar o mundo da forma como comecei, porque por um lado é tranquila , obedece à vontade daquilo que cada um quer transportar , ou seja é inclusiva , remedeia das pontas e permite uma actualização feita sobretudo da espera .Ou da demora da espera.Hoje em dia somos (quem quer ) enxarcados pelo segundo . Exemplo: Vou ao xixi , oiço do barulho da têvê que o piriquito da Lucrécia está com queda de penas , vivo a angustia dela ,vou à cozinha comer um biscoito , já todos se borrifaram para as penas do bicho e entretanto vem a Custódia aos gritos dizer que a vizinha estendeu roupa no arame dela, outra notícia ... entretanto há um sismo na China e a notícia principal passa automaticamente a ser dilacerada pelo concerto de não sei quem que está esgotadíssimo . Ora esta velocidade de estímulos é deveras opressiva . Empurra a pessoa para a incapacidade de analisar o que vê ou pensa porque é tudo fruto da rapidez .
Nisso dou graças a Deus por ter um filtro(deve ser a bexiga) qualquer que me permite actualizar quando quero o que quero e conforme o meu estado de alma. Perante a agitação concentro-me num livro , se estiver entediada sou capaz de ligar no telejornal para ou apanhar notícias bizarras ou para desaprender um pouco , mas não ligo porque aquela hora me diz para ligar , ligo porque me apeteceu e obvio que isto pode acontecer só uma vez por semana .E acreditem faz uma diferença de sentido e oportunidade incrível ao mesmo tempo que me recorda que vivo em democracia e que ninguém me obriga a ceder a vínculos , dentro daqueles limites , partindo do pressuposto que ainda não estou a combater nenhuma enfermidade de frasquinho na estante .
Sou muito ligada à experiência do livro , não consigo ser Nerd , nem intelectualóide no discurso até porque a minha oralidade é anedótica , o que escrevo é que parece ter um onús de prova ,para que me digam que sou quase razoável.Acho que o facto de me rodear de pessoas que pensam bem (família , amigos e etc )faz com que me possa alhear de alguns dos perigos .Ler sozinha não contém perigo nenhum , a não ser desmoderar a acuidade visual ou cansar-me as orelhas quando leio alto . Ler alto traz-me pensamentos mais lógico - dedutivos e permite-me alimentar a necessidade de ter sempre de estar a ler 4 ou 5 livros.Como não vem voz quando se lê para dentro parece que as que se ouvem de fora , dão outra pluralidade às linhas .Não me emburrecem tanto apenas a uma significação frásica e isso facilita tanta coisa ...
Obrigada a Deus !

1 comentário:

  1. és engraçada. Notei uma cena fixe que falas aqui. Dizes que não és intelectulóide ::)) e é curioso porque lês e entendes melhor dedutivamente através da oralidade do que pelo «silêncio» . Curioso xd :))

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