segunda-feira, 22 de novembro de 2010

" A Liberdade "

Lírica de Almeida Garrett

" Os ferros... os grilhões ?E as mãos já livres !
E os descarnados pulsos
Desalgemados , soltos !...Nós escravos
Já míseros não somos?
A pátria é pátria já , nós somos homens !
Homem ! tal nome é dado
Proferir sem vergonha ! - Os santos foros,
O eterno jus sagrado
Que , da origem do ser , nos soprou n´alma
A natureza augusta ,
Já naõ são crimes ! Já não sorve o abismo
D´esquálidas masmorras
Ao que intrépido ousou clamar por eles ,
E com livres acentos
Aos homens disse : «Erguei-vos que sois homens !»
Oh prodígio , oh ventura !
Oh nobre arrojo de esforçados peitos !
Tu , doce liberdade ,
Solta dos torpes laços de ignorância ,
Tu desprendeste o voo,
E em nossos corações , na voz , nos lábios ,
OH suspirada há tanto !
Vieste enfim pousar , vives e animas
Co almo bafejo os Lusos .
Tu do nosso horizonte as densas trevas ,
O enviusado manto
Da hipocrisia vil , do fanatismo ,
da tirania acossas ;
Tu nos franqueias da existência o gozo ;
E as aferrolhadas portas ,
Que o sacrário das leis da natureza
Árduas até aqui fechavam ,
Tu nos abres em par - homens já somos !"


Porto - Agosto de 1820

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