domingo, 22 de agosto de 2010

" A rejeitar a vida "

Tenho uma tartaruga à 20 anos.Lembro-me dela desde que desvendei os meus sete anos e comecei a arrepanhar-lhe o rabinho , enquanto repousava à sombra da palmeira numa daquelas ilhotas que à mercê de muita carninha e peixe a transformaram num porco com 25 centímetros a passear num sulco .
Actualmente tem uma casa gigante que parece um Oceanário onde pedras submergem ao sol enquanto ela esperneia gestos de lontra . Sinto-a à umas semanas a rejeitar a vida na murcheza de falta de apetite . Não é tempo de estar com os " invernos " caída de sono e só dorme. Decidi acorrer a um veterinário aqui na minha rua e esgueirar-lhe uma pergunta rapidinha .
Fiquei horas a cismar o quanto o ser humano às vezes consegue ser belo . Não percebi se o facto de estar com uns calções mínimos que o sal da praia roeu , complementou a solidariedade/deferência ou se o rapazito era mesmo de laia simpática e prestável inerente a qualquer pessoa deformada que se esquece em plena labuta dos princípios da facturação do Capitalismo .
Ora vejamos , o rapaz ,especialista em animais exóticos , esteve 45 minutos a bombardear-me com um código científico sobre a pequena. Coisa talvez para meio ano de matérias do curso do "Dele" .Chamou-me para analisar no computador 3 folhas de tonalidades cromáticas de carapaças com enfermidades e respectivas causas . Deu-me um livrete com informações úteis para conduzir tartarugas a uma vida sóbria . Eu a olhar para as suas explicações com uma atenção de múmia , levantava a cara para o olhar ser mútuo e lia-lhe enciclopédias densas no nariz . capítulos na testa , folhas vincadas nos lábios, quase a rir-me e a pensar na factura que me ia apresentar por tamanho parlápier. Depois de me oferecer um chá e de eu notar que o único mês querido é o de Agosto , pisca-me o olho e numa triteza de boca , como se a tartaruga fosse dele recorda-me que se não passasse nestes dias , tinha de a levar lá para fazer análises . Não quis fingir que o tempo que perdeu comigo era grátis e perguntei-lhe quanto era .

" Ah não é nada ! "

(ainda pensei se era o problema da tartaruga que não era nada ... de especial )

E num sorriso moratório a favor da omissão disse novamente para me ir embora desejando as melhoras à minha Pipoca .
Ainda hoje estou de boca aberta com o gesto /fidelização de clientela e a guguinha parece melhor .
Só a simpatia traz borlas , leveza de gratidão e recantos , toda a sobranceria aflora fungos e piratas em naves a entrarem pela janela da sala .

Beijos e amor , boa semana !

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