segunda-feira, 9 de agosto de 2010

" Mirada amilcar de uma escrava "

Na praia ,às vezes, custa-me repousar do àspero estudo da realidade Humana.
Admira-me que debaixo das fantasias que criamos quando estamos deitados na maresia dum azul apaixonante , entre medos de feixes musgosos e frescos e lagostas ressequidas , consigamos não ser educados perante uma moralidade discreta.
Receia-me que a delicadeza da fome , sem bens , sem prestígio , mostrada ao ardor da praia , não comova parcamente por dentro , ninguém .
Estive no Algarve a banhos: à minha volta , debaixo do chapéu de Sol , vi carreirinhos coordenados de pretas com berloques nas mãos , peles negras e descalças recurvadas no enguiço da brasura , à espera que alguém em deleite , tivesse pena ou amor pelas pulseiras que carregavam .
Chocaram-me as esplanada dos licores e da maledicência , semelhante a aventuras que conheço , enquanto as desgraçadas procuravam recobrir a RUÍNA dos ideais que se veêm.
Acenei a uma delas com a mão e permiti que numa madeixa de descanso me enfeitasse o cabelo , como se fosse algum arbusto de Natal .Trançou-me com sapiência o aspecto , corcovei-me para lhe adiantar uma cliente e fui-me embora . Dei-lhe 5 euros de espórtula e confesso-vos , sem exageros que, a 10 km de distância ainda me acenava dobrando-se em vénias . Como se eu fosse o pé direito de qualquer coisa . Mantive a lucidez do gesto por respeito e vi-a a entrar para a esplanada . Tremia de algum golpe de calor , enquanto desaparecia num vulto de 1,5 l de água .Vejo-a assustada sentada no varão da esplanada, em soslaios , de risos estúpidos sem rodeios.Aproximo-me escandalizada de gestos e a barafustar com os abjectos e as póias adormecidas nas seitas umbilicais de gelado na mão . Alarido geral , preocupações ligeiras de aflição e um rol de pessoas lambuzadas de ternura, muito a custo .Chamam a ambulância para a pretinha ser assistida.Riachos de Madre Teresas espontâneas ,albergadas em velharias de Calcutá , por entre dedos danosos de cobiças e preconceitos de espécie , a moverem carimbos .
E a mim só me ocorreu pensar : que o mistério da escravidão ressurge , cada vez que o parcial esquecimento tem veios por experimentar .


Beijoo a ti

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