quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

" O Sinal Aberto "

O semáforo intermitente , amarelos amargurados num poste a abrirem a cortina , a suspeitarem o Verão a entender-se com vontades à socapa .Calores semi-nús na praceta a ofuscarem palpebras de míopes cansados com as marchas gastas .Derretido num botãozinho amarelo a tornar peões distraídos chispe grelhado , não vá um apontar a foice e um choque estoirar-lhe a manápula intrusa .

( o tipo obcecado na mudança de direcção , rituais masoquistas , a mão protegida que não alertou o semáforo , a beliscar as calças que se metem pelo rêgo estreito )

O sinal aberto , um verde palmeira esguia a retirar a cerimónia aos avanços vincados, foge do betão adoecido por mandatos do põe e dispõe , à volta de passeios fedorentos nas bordas , a boiarem restos de anûs secos , evacuando trelas sem obediência .


Diz a Dona Rosa, prótese de velha , nauseabunda a caroço de néspera ensopado no bafio das mijas ácidas de ratos que se encostaram a passar a noite , à beira da porta , junto às garrafas vazias da adega do Jaime , a garantir que o Jingão peludo anda de surra a firmar-se no registo


- Anda , que eu já o vi por lá


( o Francisco a roer-se , trancado numa conversa de bidé e espuma saciada , a encravar a unha por não ter ficado preso no trânsito )


-É capaz é


-Aquele bode que não tem sequer uma vagazinha ideia , das noites em casa a consertar candeeiros , sem serões nos torresmos ,acagaçado aos quatros pedidos pelos amigos , ao sair do concurso das minis


-Sabe lá o que um marido representa , cuspia ela entre a pólvora dos dentes , a broca esquecida pelo dentista , imbuída em malte a disparar gatafunhos , onde a língua furiosa ensalivava ódios insuportáveis de tradição .

( o gajo que não adormeceu a olhar para a palmeira )


- É você que vai casar com ele?


( a velha antípoda numa lipotímia de placas em festa )


- A Sandra caiu que nem uma patinha, dizia a ramelosa ... no registo , a funcionária virou-se para o Jingão e


- A sua esposa tem o sinal aberto


( e num ar de orangotango em valsas a subirem-lhe pelos braços acima)


-Caso na mesma Dona


E as pessoas numa convulsão de tosse , acocoradas pelo intestino , que , só lhes dava para agrrarem com as mãos os maxilares , no lugar da barriga dorida junto ao entupimento de riso proporcionado por um palerma sem inteligência anexada

( a voz assertiva da velha a retorquir )


-É que antigamente só casava quem tivesse tudo regularizado


- É capaz é (um vulto a rir )


( e o Francisco num golpe de guerra do ultramar , a escudar-se ao puxar a unha da falange à falangeta ,numa incontinência de sangue , digno de se pirar para um bidé , a saciar a pelezinha colorida , que ficou presa ao volante quando tentou arrancar do chão o semáforo com ganas de mostrar que o sinal da esposa não tinha voltado a fechar )


um beijo de berço :P

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