sexta-feira, 21 de junho de 2013

" Al Berto "

" desprende-se do teu olhar o magnífico abandono dos animais adormecidos
recordo tuas mãos gretadas pelos sóis oblíquos destes dias do corpo
esquecido jorram espessas resinas
retenho ainda os mais íntimos desejos de me confundir com a paisagem
ou de viver precariamente no outro lado do seu silêncio enrubescido

um sombra pernoita nos interstícios das unhas
um desmaio , e da língua escorre uma madrugada de galos estáticos
a memória embaraça-me este caminhar de cão abandonado
reclino-me para cima de teu corpo ausente , isolo-me na poeira , devagar ,
o sono vem como um ferimento às pálpebras
o mundo era feito de estiletes de luz , mas já te afastavas
devolvendo-me à vigília minuciosa dos meus gestos

ouviu-se então um grito ,ou uma lágrima
falava-te daqui ,onde nenhum corpo tem sentido ou se define no tempo
crosta de terra sem esperança , arquipélago de insónia , rectângulo sem sonho
treme-me a voz ao pensar em teu amargo nome
em mim envelheceram muitos países , e todos estes anos de fúria de viver


no entanto , fugirei de casa sempre que for preciso
sem arrependimento ,atravessarei o tempo medonho dos objectos que tocaste
e possuirei de novo o fulgor dos teus frescos dezassete anos "

(quase noite , amo )

Do Gigante Al Berto , " recado " in Degredo no Sul

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