Esticava-se a revolta , a sala de aula junto a banquinhos da cor dum pinhal escuro a chilrear.
(um sono de guarda a mostrar o farol ao ladrão )
A redacção da Rita era esquisita ...
A professora entusiasmadíssima
( tudo tão longe desse tempo )
as caras dos pais eram de cães respeitosos com a odediência semelhante à disciplina do chapéu de chuva , logo à entrada de casa , arrumadinhos e quietos .
( dois erros a vermelho e um mar de palavras a destrinçar )
- Nunca houve pão para os malucos !
(as sobras têm sempre destino )
" Mãma , quando for grande quero trabalhar , viver sozinha e ser mãe solteira de um javali "
(em cada emergência da vida , a pessoa sepulta-se sem ajuda , a murmurar se consegue )
As outras redacções falavam de castelos foleiros cheios de avatares com três olhos e princesas sem veias dilatadas , coisas sem ponta de graça , coisas que deixavam absolutamente aquele texto sozinho , inigualável .Miúdos cujas mãos se colavam ao papel numa alegria de entrada de Feira Popular .
E lá ia a Rita a correr no texto , tenho a certeza , ensanguentada pelo real .
Será que um porco se entretem com um quadradinho de marmelada e deixa avançar à noitinha , uma mãe solteira ? Vejo nisto uma ironia tremenda .Parece que dá a entender que se quiser mata o porco e não lhe crescem latas de ferrugem e mijo de sanita no azulejo novo . Possivelmente quer poder .Compreendo tamanha euforia para uma menina de sete anos .
Eu por mim preferia meter o javali ao colo , dar-lhe uns talos de couve amarelada e instalar-me no sofá a depenicar quadradinhos de marmelada , enquanto uma voz do quarto berrava de medo : " Se quiseres podes fugir ".
Um beijo e um dia maravilhoso a todos !
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