quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

" Dos Seres Humanos com " H " Grande "

"Há uns cinco ou seis anos, uma jornalista do Jornal de Notícias perguntou-me se eu preferia que as minhas filhas fossem lésbicas ou sportinguistas.

Confesso que já não recordo o contexto histórico em que a questão foi colocada, mas tenho a certeza de que ia ao encontro das inquietações que perturbavam mais profundamente o público leitor daquela altura. Lembro-me, isso sim, de achar que a pergunta era, digamos, parva: pressupunha que aquelas alternativas constituíam os dois destinos mais horrorosos que os nossos filhos podem ter quando, na verdade, são apenas uma característica pessoal normalíssima (no caso do lesbianismo) e uma opção irreflectida (no caso do sportinguismo). Portanto, respondi que preferia que as miúdas fossem lésbicas, uma vez que a homossexualidade não é defeito. Como pai, preocupo-me sobretudo com a felicidade das minhas filhas, e sei que a orientação sexual não impede ninguém de ter uma vida feliz. Já quanto ao sportinguismo, não tenho a certeza.

Esta semana, segundo me disseram, outro jornal resolveu recuperar essas minhas declarações, mas omitindo o facto de terem sido proferidas em resposta a uma pergunta. Ao que parece, o jornal titulava apenas: "Preferia que as minhas filhas fossem lésbicas do que sportinguistas". Ora, posta assim, a frase é extremamente ofensiva. Para as lésbicas. Parece que eu, por minha iniciativa, escolhi o lesbianismo como um mal menor. Na verdade, não considero que a homossexualidade seja sequer um mal, quanto mais um mal menor. Mesmo quanto ao sportinguismo, devo dizer que tenho muitos amigos sportinguistas, e estou firmemente convencido de que eles devem poder casar entre si e até adoptar crianças. Fica o esclarecimento." Ricardo Araújo Pereira 

Sem comentários:

Enviar um comentário