"Há
uns cinco ou seis anos, uma jornalista do Jornal de Notícias
perguntou-me se eu preferia que as minhas filhas fossem lésbicas ou
sportinguistas.
Confesso que já não recordo o contexto
histórico em que a questão foi colocada, mas tenho a certeza de que ia
ao encontro das inquietações que perturbavam mais profundamente o
público leitor daquela altura. Lembro-me, isso sim, de achar que a
pergunta era, digamos, parva:
pressupunha que aquelas alternativas constituíam os dois destinos mais
horrorosos que os nossos filhos podem ter quando, na verdade, são apenas
uma característica pessoal normalíssima (no caso do lesbianismo) e uma
opção irreflectida (no caso do sportinguismo). Portanto, respondi que
preferia que as miúdas fossem lésbicas, uma vez que a homossexualidade
não é defeito. Como pai, preocupo-me sobretudo com a felicidade das
minhas filhas, e sei que a orientação sexual não impede ninguém de ter
uma vida feliz. Já quanto ao sportinguismo, não tenho a certeza.
Esta semana, segundo me disseram, outro jornal resolveu recuperar essas
minhas declarações, mas omitindo o facto de terem sido proferidas em
resposta a uma pergunta. Ao que parece, o jornal titulava apenas:
"Preferia que as minhas filhas fossem lésbicas do que sportinguistas".
Ora, posta assim, a frase é extremamente ofensiva. Para as lésbicas.
Parece que eu, por minha iniciativa, escolhi o lesbianismo como um mal
menor. Na verdade, não considero que a homossexualidade seja sequer um
mal, quanto mais um mal menor. Mesmo quanto ao sportinguismo, devo dizer
que tenho muitos amigos sportinguistas, e estou firmemente convencido
de que eles devem poder casar entre si e até adoptar crianças. Fica o
esclarecimento." Ricardo Araújo Pereira
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