sábado, 18 de abril de 2015

" Reflexão sobre a violência/morte rezada como rito , para alguns impávido e para outros dilacerante "

" No jornal : mulher esteve 9 anos morta em casa .Passou quase uma década entre o momento íntimo dessa morte e o maior ou menor espavento civil (e/ou religioso) que a autorizou. A morte , que acontece sempre aos outros , precisa , idealmente , da exibição do seu resíduo ; o corpo consumado .Ou então de um vestígio , notícia , um boato que seja .Se ninguém acolheu a morte dessa mulher , então ela só morreu (tornou a existir ) de facto , no dia em que a encontraram no chão do seu apartamento . Mais do que uma utopia , ou um hiato (uma hiatopia) o lugar e o tempo onde e em que ela desexistiu (apurados e admitidos postumamente ) têm a dimensão do mito . E eis que o vocábulo apartamento atingiu ali a sua literalidade . Mas de nada , para nada , por nada e em tempo nenhum . " Poesia do Gigante Miguel Manso in " Um Lugar a Menos "

Sem comentários:

Enviar um comentário